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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

OS LOUCOS E OS SANTOS




Deus me livre a mesmice de ser o mesmo uma semana inteira! Hoje sou o mesmo de hoje de manhã e é tudo que consigo manter. Daqui a pouco espero ser outro. O que amava há cinco minutos, quero odiar nos próximos cinco. E se eu não odiar, farei com que eu seja odiado. Mil vezes o mar agitado e o naufrágio que a calmaria - quero o terremoto, o vulcão. Fiquem os mesmos da semana passada sentados - aí - em suas varandas, em suas salas bem decoradas, assistindo à vida mudar - eu quero é estar lá mudando a vida.
Fiquem aí no eterno carrossel dos que não têm a coragem de enlouquecer, eu quero a montanha-russa da minha dor, da minha loucura. Se a roda gigante pelo menos girasse na velocidade da luz, talvez eu perdesse meu tempo em seu girar - mas lenta como ela vai - prefiro ser o alvo do tiro ao alvo: só o risco me faz gozar. O prazer bem comportado - este eu deixo para os que dizem que dois loucos juntos não se podem curar. E quem disse que eu quero me curar? Curar é virar isso que são os outros? Isso de vestir a mesma cara todo dia? Andar com os mesmos passos e falar o mesmo idioma a vida toda? Eu não! Deixem-me ser louco. Afinal, só os loucos e os santos é que sabem o prazer de ver os tolos - que se julgam normais - ajoelhados a seus pés a lhes adorar.
Na rodoviária, um louco me disse que era padre e que se tivesse um filho, ele teria meu nome: seu nome é bonito! Disse que estudou teologia, filosofia, advocacia, comunicação, que fazia filmes pornôs em São Paulo, que era alcoólatra e que queria terminar, comigo, uma cena no banheiro. Sorri como só os loucos sorriem. Ele reconheceu, então, que eu também era padre e que tinha feito filosofia, comunicação, advocacia e teologia - mas que os filmes pornôs estavam me esperando em São Paulo. Quando eu chegar, quero uma câmera em cada canto do meu quarto, uma luz bem forte e mil espelhos a me refletir - quero fazer amor comigo mesmo: e este será o mais pornográfico dos filmes jamais filmados.

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