Acordo de uma
noite extremamente mal dormida e caminho, ainda em estado de zumbi, até o outro
quarto e ouço:
- Oi, dormiu bem?
Ao que
respondo: - Não. E sigo ao banheiro, meu companheiro solitário da higiene
matinal. Então durante a reflexão que se estabelece enquanto ouço o barulho do
encontro entre os líquidos da minha urina e o do vaso – eis que me apercebo e
me espanto – e de volta ao quarto – confirmo:
- Você ouviu o que eu te
respondi? Enquanto abro a janela e a fecho, em seguida. A rua lá fora grita com
o trânsito que acordou antes de mim e eu prefiro o silêncio do quarto.
- O quê?
- Você me fez uma pergunta,
lembra?
- Ontem?
- Não, agora pouco. Bom, deixa
pra lá.
- Não, Lê, vem aqui – Percebe o
leitor que eu já me encontrava fora do quarto, já atravessara o corredor e a
porta do banheiro. Enquanto o outro gritava o diminutivo do meu nome, eu entrei
no meu quarto e dele saí, dizendo: - Tudo bem, esquece. Vou descer e tomar
café. Ah, e obrigado. Já sei qual vai ser o meu texto de hoje.
Causa-me um
terrível estranhamento isso de as pessoas perguntarem coisas cujas respostas
não lhes interessam. O desinteresse é tamanho que em fração de minutos elas já
esqueceram, inclusive, o que perguntaram. É o caso do ‘oi, tudo bem?’ que todo
mundo já sabe que ninguém quer saber se realmente está ou não tudo bem.
Eu sei que há
perguntas retóricas, é claro. E entendo seu uso e sei que, em muitos casos,
elas são de grande importância, mas aqui, no caso acima, não se trata de
pergunta retórica, estou falando de uma ‘pergunta folclórica’, como a lenda do
saci ou da mula sem cabeça. É a pergunta sem cabeça: a pergunta sem pergunta.
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