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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DORMIU BEM? NÃO.





Acordo de uma noite extremamente mal dormida e caminho, ainda em estado de zumbi, até o outro quarto e ouço:
- Oi, dormiu bem?
Ao que respondo: - Não. E sigo ao banheiro, meu companheiro solitário da higiene matinal. Então durante a reflexão que se estabelece enquanto ouço o barulho do encontro entre os líquidos da minha urina e o do vaso – eis que me apercebo e me espanto – e de volta ao quarto – confirmo:
- Você ouviu o que eu te respondi? Enquanto abro a janela e a fecho, em seguida. A rua lá fora grita com o trânsito que acordou antes de mim e eu prefiro o silêncio do quarto.
- O quê?
- Você me fez uma pergunta, lembra?
- Ontem?
- Não, agora pouco. Bom, deixa pra lá.
- Não, Lê, vem aqui – Percebe o leitor que eu já me encontrava fora do quarto, já atravessara o corredor e a porta do banheiro. Enquanto o outro gritava o diminutivo do meu nome, eu entrei no meu quarto e dele saí, dizendo: - Tudo bem, esquece. Vou descer e tomar café. Ah, e obrigado. Já sei qual vai ser o meu texto de hoje.
Causa-me um terrível estranhamento isso de as pessoas perguntarem coisas cujas respostas não lhes interessam. O desinteresse é tamanho que em fração de minutos elas já esqueceram, inclusive, o que perguntaram. É o caso do ‘oi, tudo bem?’ que todo mundo já sabe que ninguém quer saber se realmente está ou não tudo bem.
Eu sei que há perguntas retóricas, é claro. E entendo seu uso e sei que, em muitos casos, elas são de grande importância, mas aqui, no caso acima, não se trata de pergunta retórica, estou falando de uma ‘pergunta folclórica’, como a lenda do saci ou da mula sem cabeça. É a pergunta sem cabeça: a pergunta sem pergunta. 


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